domingo, 27 de dezembro de 2015

Lambe Day cultua fotografia popular

Com a espontaneidade da foto de rua e o gosto pela pose, o lambe-lambe ressurge com novas tecnologias de equipamentos e efeitos ( Fotos: Elizângela Santos )
O projeto de revisão do antigo ofício, com grande identificação com o romeiro, contempla a história dos fotógrafos populares, monoculistas, além dos fotopintores. Mas, na ordem do momento, entra o Lambe Day
Juazeiro do Norte. O lugar que serviu de base, um dia, para o fortalecimento da fotografia popular no Nordeste brasileiro, passa a ser referência para a realização do Lambe Day. A primeira edição aconteceu na cidade, e com a presença de grandes nomes da área no Cariri. Por décadas, fotógrafos como Chico Alagoano e Tonho Ceará atuaram principalmente na terra das romarias ao Padre Cícero. E ainda resistem nesse ofício em quase extinção.
O primeiro Lambe Day aconteceu num ambiente de resistência aos tempos digitais. A Casa Gino, depois de quase cinco décadas ponto de encontro dos fotógrafos populares da cidade, em frete ao Mercado Central, na Rua São Paulo, no Centro de Juazeiro do Norte, fechará as suas portas. Os monóculos nas vitrines, os ampliadores, molduras antigas, os recipientes de produtos químicos reveladores das fotografias de rua, agora estão com os seus dias contados, quando o único comércio voltado para atender aos poucos profissionais desta área, ou os saudosistas, e até mesmo pesquisadores que buscam reavivar a memória para uma arte que não poderá ficar no esquecimento, irá fechar até março do próximo ano.
Acervo
O fotógrafo e pesquisador Luiz Santos vem realizando um trabalho junto com o lambe-lambe de Juazeiro do Norte Tonho Ceará. Além dele, o historiador e pesquisador Titus Riedl; a diretora de Museus, Valéria Laena; e produtores do Cariri estão organizando uma exposição das fotos populares, com o acervo de Titus, para levar ao Sesc Belenzinho, em São Paulo, um espaço de mais de 500 metros.
O projeto contempla a história dos fotógrafos populares, monoculistas, além dos fotopintores. Mas, na ordem do momento, entra o Lambe Day. São eles, os fotógrafos ambulantes de antigamente, que dão o tom nas ruas de Juazeiro, novamente, sempre se reinventando com as técnicas simples de todo dia. "Estou muito feliz de poder fazer esse trabalho. Não tem como mudar muito. É algo simples, mas sempre bom poder trazer para as ruas o que se tornou diferente para as pessoas", afirma Tonho Ceará. Ele realiza esse trabalho desde os anos de 1960 e vem de uma família de profissionais do mesmo ramo. Ainda alcançou um grupo que marcou época, como Chico Alagoano, que começou nos anos 50.
Renovação
Para Luiz Santos, o Lambe Day tem uma finalidade refinada. Trabalha com uma técnica precária de captação de imagens, contudo o que interessa é uma ideia de pensar o retrato como uma possibilidade sempre renovada e, nesse aspecto, o retrato que faz uma referência ao tempo, onde as pessoas se sentavam, reverenciavam o instante solene, de receber a figura do retratista. As pessoas colocavam sua melhor roupa, para expor o seu semblante mais digno. Foi no Ceará que Santos se encantou com a fotografia popular. O recifense esteve, em meados dos anos 2000, participando do I Encontro de Fotografia Popular, no Dragão do Mar, em Fortaleza.
Um momento também reflexivo para a fotografia contemporânea da era "selfie". "O Lambe Day traz para a rua, com o seu ambiente diverso, a possibilidade contemporânea de criação artística, por esse viés do retrato", define Luiz Santos.
Curadoria
O fotógrafo diz que esse processo poderá ir mais longe, pois não se tem produzindo coisas, objetos, paisagens com essa câmera. "Não fomos ainda mais adiante, mas tudo está fazendo parte do que envolve o instantâneo. Desde o primeiro encontro do Tonho Ceará e eu, procuramos produzir além dos retratos da câmera escura dele. Também filmes, outras documentações, com o digital, preto e branco, e, ainda, a película", diz.
A exposição se constrói com a curadoria do Titus Riedl, Valéria Laena, do Dragão do Mar, sobre o Retrato Popular, e o projeto de lambe-lambe, com essa versão Lambe Day. "É uma forma de brincar. Um americanizado, sem ser colonizado, para facilitar a comunicação", diz. (E.S.)
Resistência
"Importante registrar o que ainda tem resistido nesse ofício e trazer o lambe-lambe para que as pessoas conheçam". Allan Bastos - fotógrafo
"Foram muitos frutos desse trabalho, como ajudar que não se fechassem alguns estúdios e oferecendo alternativas". Valéria Laena - diretora de museus

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