domingo, 28 de fevereiro de 2016

Assaré se organiza para festa dos 107 anos de Patativa


A pequena localidade acumula lembranças representativas de Patativa. Num sobrado antigo no Centro está montado o único espaço de museu do Município: o Memorial Patativa do Assaré
Assaré. O poeta continua vivo na memória do povo. A partir do próximo dia 3, esta cidade comemora os 107 de Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré. A festa reunirá nomes da cultura local e contará com o lançamento do projeto Contos do Patativa, uma ação itinerante, em um ônibus, com os próprios netos do poeta, que circulará o Estado, começando pelo Município e região do Cariri. Será a oportunidade de levar a história, música e poesia de Patativa para todo o Estado do Ceará.
O projeto está sendo desenvolvido pela Fundação Memorial Patativa do Assaré e Universidade Patativa do Assaré (UPA). Na abertura da festa, a cidade contará com uma alvorada da Banda de Música Manoel Bento, ao som das músicas do poeta e um café literário, na Serra de Santana. A programação faz parte da XII Semana Patativa do Assaré em Arte e Cultura, que acontece até o dia 5, data de aniversário do poeta.
Patativa morreu aos 93 anos, e, segundo o secretário de Cultura do Município, Eugênio Oliveira, só passou a ser mais reconhecido em sua própria terra natal no pós-vida.
Atividades escolares são expandidas durante a semana, com as apresentações de diversas modalidades de trabalhos, com inspiração na obra. Para isso, foi criada a disciplina de Cultura Popular nas escolas, e durante essa semana, os alunos divulgam as atividades. O secretário afirma que muitos talentos voltados à poesia e à música foram descobertos em Assaré, após essa disciplina ser iniciada.
Declamação
A pequena localidade acumula lembranças representativas de Patativa. Num sobrado antigo no Centro está montado o único espaço de museu do Município: o Memorial Patativa do Assaré. Em frente ao local, há uma estátua de bronze em tamanho natural do velho poeta, em gesto de declamação de suas poesias. Ele recebeu títulos de Doutor Honoris Causa de quase todas as universidades cearenses, inclusive da Universidade Regional do Cariri (Urca), Universidade Federal do Ceará (UFC), e Universidade Estadual do Ceará (Uece).
O seu trabalho ganhou expressão nacional após a publicação do livro "Cante Lá que eu Canto Cá", pela Editora Vozes, tendo sua primeira edição em 1978, por meio do ex-reitor da Urca, professor Plácido Cidades Nuvens, fundador do Museu de Paleontologia de Santana do Cariri. Para a neta de Patativa, Isabel Silva, é uma grande alegria poder vivenciar esse interesse e admiração que as pessoas nutrem pelo seu avô.
Ela coordena o Memorial, que tem a administração da própria família do poeta, que lutou para que o projeto fosse realidade e, ainda em vida, Patativa chegou a inaugurar o espaço. O local abriga a memória do poeta, bibliografia, discografia, objetos pessoais e trabalhos realizados em sua homenagem.
Isabel diz que a movimentação tem sido constante, principalmente no período escolar. São cerca de 600 visitações registradas, com a presença de alunos de escolas de diversas cidades do Interior do Estado, além de Fortaleza. Ela será uma das três netas de Patativa que irá percorrer o Ceará, com mais um neto, no projeto itinerante.
Diz que é um novo momento, que irá projetar mais ainda o trabalho do seu avô, principalmente para as novas gerações. Para isso, serão mobilizados também artistas, tanto de Assaré, para as apresentações inspiradas na obra de Patativa, como das próprias localidades. "Uma forma de valorizarmos a cultura de cada lugar", afirma.
Apresentações
Um dos dias mais representativos dos festejos será no próximo dia 4 de março, com apresentações voltadas para os poetas locais, a exemplo de Geraldo Gonçalves, primo de Patativa, e Chico Paes, parente da esposa de Patativa, e sanfoneiro bastante elogiado pelo seu trabalho. Às 20 horas, será realizado o encontro de sanfonas e shows.
Mas, várias apresentações serão realizadas no dia 3. A Expoarte será aberta na Escola Rural Patativa do Assaré e Café Literário - Serra de Santana; também será aberto o Projeto "Aqui tem coisa", da Escola Batistina Braga, na sede.
À tarde haverá excursão das escolas Profissional Antônia Nedina Onofre Paiva e Ensino Médio Raimundo Moacir Mota à Expoarte e à casa onde nasceu Patativa, na Serra de Santana.
A abertura oficial da I Feira de Artesanato do Estado, neste ano, será na cidade, às 1 h, com a presença da primeira-dama do Estado, Onélia Leite. Em seguida ocorre apresentação da banda de música e shows com Rafael Belo Xote, Léo Magalhães, Mano Walter, Bartô Galeno, Érica Diniz e Nigth Forrozeira.
Palestra
A alvorada do poeta, às 5 horas, com fogos de artifícios no dia 5, chama a atenção da população para o aniversário da personalidade ilustre que leva o nome da cidade. À tarde, será realizada palestra com Bráulio Bessa, da Fundação Memorial Patativa do Assaré. A programação termina com missa de ação de graças, na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores, além de apresentações artísticas e shows musicais. O poeta projetou o nome de Assaré, segundo o secretário de Cultura. O reconhecimento nacional e em outros países de Patativa é motivo de gratidão, para o seu povo.
Os festejos estarão voltados também para uma espécie de exaltação à poesia, principalmente na serra de Santana, onde o poeta passou a maior parte da sua vida, na zona rural.
Foi lá onde ele se inspirou para escrever grande parte do seu trabalho. "Patativa traduz fortemente a identidade de Assaré. Ele trouxe o turismo, desenvolvimento", admite Eugênio que foi também amigo pessoal de Patativa e um estudioso de sua obra.
Já bastante idoso e doente, Patativa, quando vivo, não deixou de receber homenagens de várias partes do mundo. Portanto, não foi de estranhar que, no dia seguinte à sua morte, uma grande multidão se reuniu em torno do velório, na Igreja da Matriz e no traslado do caixão até o cemitério municipal. Na ocasião, intelectuais, escritores e professores do meio acadêmico eram unânimes no reconhecimento do talento e da sensibilidade do poeta.
De forma rústica, com o Português "quebrado", ou escrito de forma errada, ele discorria da dor do exílio por conta da seca, dos animais que padeciam pela falta d'água e dos pássaros que anunciavam a tão esperada estação das chuvas.
Em inúmeros cordéis, era a dor e sofrimento que renovam a força do sertanejo, com um orgulho tão singular pela resistência quanto pela capacidade de amar, mesmo diante das maiores adversidades. (E.S.)
Fique por dentro
Artista popular transformava dor em poesia
Quase 14 anos após da morte do poeta Patativa do Assaré, a cidade comemora o seu aniversário como filho mais ilustre do Município. Ele teve reconhecimento internacional sendo estudando por universidades como a Sorbonne, na França, tendo várias de duas poesias traduzidas para o Francês. Patativa recebeu cinco títulos de doutor honoris Causa e vários prêmios. Praticamente todas as universidades do Ceará compartilharam a honraria com o poeta, que pôde expressar, por meio da sua poesia, a crítica social e a vida do sertanejo, o seu cotidiano, as dificuldades enfrentadas com a seca, e chegou a publicar livros e diversos cordéis, além de declamar seus versos onde chegava, inclusive em rádios da região, principalmente em Crato. Patativa era um leitor de grandes nomes da literatura, a exemplo de Castro Alves e Camões. Foi amigo pessoal de Luiz Gonzaga, que chegou a gravar músicas com letras do Patativa, além do poeta Pedro Bandeira. O drama do sertanejo, agravado pelos ciclos de seca, é o cerne da sua obra, que não perde a candura e a delicadeza. Na forma mais simples, Patativa nos ensina a ver a vida com os olhos líricos, apesar de toda a dor do mundo.

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