domingo, 28 de fevereiro de 2016

Campanha quer ajudar integrante da Banda Cabaçal


Crato. O som do pife não pode silenciar. Há pouco mais de um ano, o Cariri perdeu um dos grandes expoentes da cultura popular. Em 12 de janeiro de 2015, Antônio José Lourenço da Silva, o mestre Antônio Aniceto, se foi. Agora, o herdeiro do legado, seu irmão, mestre Raimundo Aniceto, vivencia o drama de perder a fala por conta de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Ele necessita de cuidados profissionais para se recuperar. Com poucos recursos financeiros, não vem tendo o acompanhamento devido. O mestre Raimundo está com 82 anos, mesma idade que o mestre Antônio faleceu, com problema de saúde semelhante.
A esperança é que um fonoaudiólogo e um neurologista se disponibilizem para o tratamento, ou mesmo uma instituição se encarregue do acompanhamento. Mestre Raimundo sofreu um AVC quando estava em sua casa, na Chapada do Araripe, na madrugada do dia 13 de novembro de 2015. Foi internado em Crato e, depois, transferido para o Hospital Regional do Cariri (HRC), onde passou 12 dias.
Uma campanha em prol do mestre tem se espalhado nas redes sociais, pelos admiradores da Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto. Em maio de 2015, o grupo criado ainda no século XIX, que traz junto um resgate da ancestralidade dos índios Kariri, fez 200 anos. A herança tem sido passada de pai para filho e neto, tendo como fundador José Lourenço da Silva. Os principais apelos agora estão direcionados às instituições culturais.
Nos primeiros momentos após o AVC, mestre Raimundo, que hoje tem a responsabilidade de liderar a bandinha bicentenária, depois da morte do mestre Antônio, primeiro pifeiro do grupo, tem dificuldades de falar, articular as mãos e até mesmo comer. O braço direito ainda está com inchaço, mas antes permanecia praticamente sem movimentos. Ele massageia, porque ainda há dor. Atualmente, se esforça para dizer algo, e não consegue. A recuperação de forma mais rápida depende de ajuda profissional. O semblante é de felicidade ao pegar o pife.
Voluntária
Nos últimos meses, tem tido o acompanhamento de uma fisioterapeuta voluntária, a alemã Anna Jansen. Ela deu os primeiros passos com o mestre Raimundo, desde o começo do tratamento. E já conta com uma evolução considerável. A fisioterapeuta acredita que o mestre irá se recuperar com o tratamento.
O momento tem sido delicado na casa do mestre Raimundo Aniceto. Há poucos dias, a sua esposa, Raimunda Galdino Oliveira Silva, 76, também teve que passar por uma cirurgia para tirar pedras da vesícula e se encontra em fase de recuperação. Mas a sua grande preocupação é com o marido. "Às vezes ele fica um pouco impaciente", diz.
A secretária de Cultura do Crato, Dane de Jade, tem acompanhado a situação de mestre Raimundo, e dentro das possibilidades, buscado dar um apoio. Segundo ela, uma equipe da Saúde está buscando alternativas para o tratamento e deverá entrar em contato com a família. Na próxima segunda-feira, uma fonoaudióloga de Juazeiro do Norte, que voluntariamente se propôs auxiliar no tratamento, vai atender o mestre Raimundo em seu consultório para avaliar a situação. A família está ansiosa para que tudo dê certo.
Mobilização
A professora Cláudia Rejanne Pinheiro Grangeiro fez a sua manifestação em rede social, ao destacar o momento em que todos os pífanos tocam em oração aos mestres da cura, por Raimundo Aniceto. Além de ressaltar o apelo aos governantes que tanto se utilizam da imagem dos Aniceto para se promoverem. Essa tem sido a forma como a maioria dos que tem apreço pela banda tem se manifestado.
Mestre Raimundo herdou um legado de uma das bandas cabaçais mais representativas e originais do sul do Estado. A Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto leva consigo uma legião de fãs do trabalho do grupo. Já chegaram a estar no palco com grandes nomes da música, a exemplo de Hermeto Pascoal.
Também gravaram quatro discos e se apresentaram com a Orquestra Eleazar de Carvalho, com produção de um DVD. No ano passado, os integrantes do grupo recepcionaram o ministro da Cultura, Juca Ferreira, com a apresentação do mestre Raimundo. A banda se tornou um ícone da cultura e da tradição. A comemoração dos 200 anos aconteceu numa terreirada, em frente à casa do mestre Raimundo, no bairro Seminário. O grupo chega à terceira geração e outra turma mirim já ensaia os passos para dar continuidade ao legado. O grupo musical foi reconhecido como Patrimônio Imaterial do Crato, no ano passado. 
Mais informações:
Banca Cabaçal dos Irmãos Aniceto
Rua Manoel Macedo, 301
Bairro Seminário
Crato
Telefone: (88) 3523-2365

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