quarta-feira, 30 de março de 2016

Sobral destaca plantas medicinais em ação social

 Sobral. Criada no interior, com estreito contato com a natureza, a aposentada Francisca da Silva Julio, 63, sempre recorreu aos remédios extraídos das plantas para cuidar da família, assim como sua avó e bisavó, que cultivavam perto de casa ervas medicinais. A falta de assistência de saúde, principalmente nos locais de difícil acesso, contribuiu para que pessoas como dona Francisca, muitas vezes fossem tratadas em casa mesmo, com todo tipo de medicação que pudesse ser extraída de folhas e raízes, sempre ao alcance da mão; daí, ser comum o uso de chás e garrafadas contra todo tipo de doença.
Para não perder o velho hábito, a aposenta participa de oficinas que resgatam o conhecimento popular, mas com base em pesquisas científicas, como, por exemplo, o uso do suco de capim santo com limão para o alívio de pequenas crises de cólicas uterinas e intestinais, bem como no tratamento do nervosismo e intranquilidade; ou o sabonete de aroeira, com poder anti-inflamatório e cicatrizante.
Para a aposentada, a oficina é de extrema importância. "Eu aproveito para aprender mais e trocar conhecimento. Muito desses remédios ensinados aqui eu já conheço, mas sempre a gente aprende um pouco. Eu não sabia como fazer o sabonete de aroeira, para a pele, que é bem prático; e só leva raspas da planta, água e sabão de coco, com validade de um mês de uso", disse.
Experiência ampliada
As experiências vividas por dona Francisca são divididas toda semana com outras 20 pessoas, que se encontram pelo projeto Farmácia Viva, Programa de Assistência Social Farmacêutica, criado com o objetivo de repassar o conhecimento científico do uso e correta manipulação das plantas medicinais, além de promover o resgate do conhecimento popular com ajuda da ciência.
Criado em 2001, em Sobral, o Farmácia Viva, instalado desde 2012 no Centro de Saúde da Família (CSF) do Bairro Sumaré, fez tanto sucesso que se estendeu a outros bairros da cidade. A Central de Hortos possui 20 canteiros, com cerca de 25 espécies de plantas medicinais, entre elas o capim-santo, a malva-santa, a cidreira, boldo, e alecrim-pimenta. Há outros cinco pontos na cidade em CSFs.
Segundo a farmacêutica Wilcare Cordeiro Nascimento, "é importante falar com as pessoas sobre os riscos que as plantas oferecem. Nem sempre o que é natural pode ser usado de uma mesma maneira. Pode existir uma certa toxidade, daí o envolvimento da comunidade para sabermos o que se está usando em casa, o que eles cultivam, e se estão fazendo uso da maneira correta. Também distribuímos mudas e sachês dos preparos".
Além de Sobral
Além de Sobral, a região norte conta com outros hortos da Farmácia Viva instalados em Viçosa, na Serra da Ibiapaba; Itapajé e Itapipoca. A Equipe conta com apoio de um profissional de Zootecnia, que auxilia no cultivo das plantas, no desenvolvimento de técnicas de plantio, na colheita das folhas, na confecção de mudas, e na manutenção do horto, que segue todo um cronograma. Segundo Ana Milene César Lima, "a procura tem crescido muito por conta da conscientização das pessoas da importância da Fitoterapia em diversos tratamentos de doenças".
As plantas também recebem diariamente os cuidados especiais das mãos de Expedido Duarte Lima, 51, jardineiro do projeto há dois; que além das técnicas de plantio, revela o que faz para ter o melhor de cada espécie: "Esse jardim é especial para mim, porque eu sei que as plantas que saem daqui vão ajudar alguém que precisa. O amor que eu sinto por cada planta é o que faz eu dar o melhor que posso para deixar tudo bem cuidado".
Fitoterapia no Ceará
A Farmácia Viva faz parte do Núcleo de Fitoterapia do Estado do Ceará (Nufito), que regula todas as atividades dos cerca de 74 postos no Estado, além de fornecer apoio técnico e científico, capacitar profissionais, fornecer mudas, certificar o uso das plantas medicinais e manter atualizada a lista estadual dessas espécies.
O marco histórico do desenvolvimento da Fitoterapia no Ceará foi a criação das Farmácias Vivas, idealizado pelo professor Francisco José de Abreu Matos, em 1983.

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