sábado, 28 de maio de 2016

Qualidade da água dos açudes está comprometida

Profissionais da Cogerh fazendo coleta de água para análise no Açude Lima Campos ( Foto: Honório Barbosa )
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Iguatu. Dos 98 reservatórios monitorados para fins de análise de qualidade das águas interiores pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), 81 apresentam índices de poluição considerados elevados, 16 medianos e apenas um (Açude Tatajuba, em Icó) mostra nível limpo. Os dados são do portal hidrológico da Cogerh e têm por base a análise de composição química da água.
O elevado índice de poluição dos reservatórios (açudes e rios) é preocupante, pois são fontes de água para o abastecimento humano de moradores dos centros urbanos e áreas rurais. "Essa situação exige atenção dos governantes, ações preventivas e mais investimentos para o adequado tratamento da água", observa a professora Sandra Santaella, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Agravamento
A docente do Labomar observa que depois de cinco anos seguidos de estiagem, sem recarga dos reservatórios, houve maior concentração dos poluentes. "A chuva contribui para carrear os nutrientes para os reservatórios, mas a falta provoca uma concentração dos elementos químicos, favorece o processo de concentração das algas, como se fosse uma 'sopa de algas'. Quando há cheias, verifica-se uma melhoria da água que se renova", frisou.
O estado trófico é um processo normalmente provocado pelo homem e também de ordem natural, mas, neste caso, em uma escala de cerca de 500 anos. Tem como princípio básico a gradativa concentração de matéria orgânica acumulada nos ambientes aquáticos. "Quando se constrói os açudes não é feito o desmatamento e a vegetação se decompõe liberando nutrientes e acelerando o processo de eutrofização", explica Sandra Santaella.
Os fatores que contribuem para a crescente taxa de poluição nos reservatórios são os dejetos domésticos (esgoto), fertilizantes agrícolas e efluentes industriais, diretamente despejados nos rios, lagoas e açudes. A quantidade excessiva de minerais (fósforo e nitrogênio) induz a multiplicação de micro-organismos (as algas) que habitam a superfície da água, formando uma camada densa, impedindo a penetração da luz.
Com reduzida penetração da luminosidade ocorre a queda da taxa fotossintética nas camadas inferiores, ocasionando o déficit de oxigênio suficiente para atender a demanda respiratória dos organismos aeróbios (os peixes). Nesse quadro, não conseguem sobreviver, aumentando ainda mais o teor de matéria orgânica no meio.
A consequência é a elevação do número de agentes decompositores (bactérias anaeróbias facultativas), atuando na degradação da matéria morta, liberando toxinas que agravam ainda mais a situação dos ambientes afetados, comprometendo toda a cadeia alimentar, além de alterar a qualidade da água, também imprópria ao consumo humano.
Distribuição
O mapa do estado trófico do portal hidrológico da Cogerh, referente a novembro de 2015, mostra que em todas as bacias hidrográficas há açudes com índices elevados de poluentes (hipereutróficos e eutróficos). Há, entretanto, uma concentração na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
Os três maiores açudes do Ceará (Castanhão, Orós e Banabuiú) estão no índice eutrófico (que apresentam alterações indesejáveis na qualidade da água e interferindo no seu uso). Esses reservatórios recebem água dos rios Salgado, Jaguaribe, Banabuiú e de seus afluentes para onde são despejados diretamente, sem tratamento esgotos das vilas rurais e das cidades.
A professora Sandra Santaella observa que as algas são tóxicas, fazem mal e podem até levar o ser humano à morte. "Sem dúvida é preocupante o elevado nível de poluição desses reservatórios", frisou. Esses açudes são fontes de abastecimento de água, não apenas das cidades do Interior, mas também da Capital e Região Metropolitana. "O quadro exige atenção das autoridades e adoção de medidas preventivas, pois a seca é cíclica, agravando a qualidade da água", completou.
Os índices de coliformes fecais e totais também estão relacionados com a eutrofização dos corpos de água, mas referem-se a outro tipo de análise da qualidade da água. Os dados da Cogerh relacionam-se com análise de novembro de 2015. "É um período razoável de análise, pois são muitos reservatórios e parâmetros a serem verificados. Sempre haverá defasagem, mas é um tempo razoável, que não vai alterar muito a situação, pois as mudanças são lentas", explicou Sandra Santaella.
Por meio de nota, a Cogerh afirmou que há uma tendência natural de os reservatórios apresentarem-se eutrofizados, principalmente, após um período de cinco anos com reduzidos aportes de água durante a estação chuvosa. Frisou que há uma tendência de aumento da eutrofização com o fim da estação chuvosa e observou que poderá haver diminuição com a provável recarga/sangria dos reservatórios na próxima estação chuvosa, em 2017. 

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