sábado, 26 de novembro de 2016

Depois da renhida luta o amanhã é a incógnita

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Inútil todo o esforço desenvolvido, ao longo desta semana, pelo governador Camilo Santana (PT) e o ex-governador Cid Gomes (PDT), para unir a base parlamentar governista na Assembleia e evitar a disputa, arraigada como está, pela presidência do Poder Legislativo, para o momento mais importante da rearrumação das forças políticas, no caso os dois últimos da gestão, quando são trabalhadas as composições com vistas às eleições estaduais de 2018.
A irredutibilidade dos deputados José Albuquerque, querendo a reeleição, e Sérgio Aguiar, o lugar de presidente, nos faz voltar ao aqui escrito no último sábado, e lembrar "O Amanhã" do compositor João Sérgio, o célebre samba enredo feito para a União da Ilha do Governador, no Carnaval Carioca de 1978, imortalizado pela cantora Simone, e outros grandes intérpretes nacionais, que tem uma de suas estrofes bem apropriada para o momento político cearense quando diz: "Como será amanhã? Responda quem puder. O que irá me acontecer? O meu destino será como Deus quiser".
No sábado pretérito, aqui dissemos: "Camilo Santana, qualquer que seja o resultado das duas eleições (a segunda é a do comando do Tribunal de Contas dos Municípios), amargará as consequências das divergências ora existentes. Na Assembleia, as dificuldades se darão na articulação política para o curso normal das suas proposições, inclusive naquelas pelo Governo consideradas fundamentais à segunda metade da gestão, onde o foco central é o ano do pleito estadual. E com os prefeitos que, na sua maioria, ou pelas atcnias nas contas ou por ilegalidades na administração, estão mais dependentes da ajuda de conselheiros do Tribunal do que os parcos recursos do Estado, ele também se ressentirá".
Critério
Avanço, se alguém admitir ter havido, na tentativa de evitar a disputa em plenário, no fim da manhã da próxima quinta-feira, 1º de dezembro, foi tentar, ainda na manhã deste sábado, uma manifestação da bancada do Governo na Assembleia, sobre qual dos dois deva ser o candidato a presidente.
Na quinta-feira, após os banquetes oferecidos aos seus respectivos apoiadores, essa solução da escolha de um nome pela bancada, construída pelo ex-governador Cid Gomes, não aconteceu por conta da alegação de um dos dois candidatos de não ter tido tempo de arregimentar os eleitores até o início daquela noite. Os dois almoços reuniram aproximadamente 30 deputados, inclusive oposicionistas. O Colégio Eleitoral para definir sobre a escolha de um nome governista soma 32 parlamentares.
A ideia desse critério de escolha do nome do próximo presidente da Assembleia foi do deputado Sérgio Aguiar. Ele está isolado dentro do PDT, a maior bancada, e fundou sua postulação em integrantes dos demais grupos de apoio ao Governo no Legislativo. José Albuquerque não queria. Sua alegação era de que o maior partido indicaria o nome.
E mais, reclamava um compromisso que teria sido firmado pelo governador Camilo Santana, e o ex-governador Cid Gomes, quando da escolha de Camilo para disputar o Governo, de que seria ele o presidente da Assembleia nos dois períodos (no Legislativo o mandato é de dois anos), que compreenderiam os quatro anos do mandato do governador.
Descontentes
Não há como acreditar na existência de duas chapas encabeçadas por José Albuquerque e Sérgio Aguiar, na quinta-feira, após a escolha de um dos dois pela bancada, prevista para esta manhã. Mas há certeza que ambos estarão descontentes, após todo o imbróglio.
O eleito pela falta do apoio esperado das principais lideranças do seu partido, e o derrotado, pelos dois motivos: ausência de empenho dos líderes e o insucesso. Por mais que digam ao contrário, jamais serão os mesmos liderados, principalmente Sérgio Aguiar, agora, também por conta das circunstâncias, bem mais ligado a Domingos Filho, o próximo presidente do Tribunal de Contas dos Municípios.
Viabilizado
Domingos não tem mais qualquer preocupação com sua ascensão ao comando da Corte de Contas municipais. Já está viabilizado com o conselheiro Manoel Veras na vice. Agora, ele só tem atenção voltada para a presidência da Assembleia. São os deputados ligados aos partidos controlados por Domingos - PMB e PSD, o principal sustentáculo da postulação de Sérgio Aguiar.
Este, apoiado também pelo pai, o guardião da cadeira de presidente do Tribunal para o sucessor Domingos Filho. Os dois têm muitos prefeitos como credores, que, por sua vez, contam com os deputados em que votaram para pagarem a conta aos conselheiros, votando em Sérgio para presidente.
A última eleição de presidente da Assembleia Legislativa cearense com disputa foi há mais de 30 anos quando Castelo de Castro foi eleito derrotando o avô de Sérgio Aguiar, o ex-deputado Murilo Aguiar. Ele morreu ao fim da renhida disputa, integrando o grupo do ex-governador Gonzaga Mota. Aquiles Peres Mota, presidente da Assembleia à época, representando o grupo "virgilista", com o qual Gonzaga havia rompido, patrocinou a candidatura de Castelo.
Do fim da década de 80 até agora, todas as eleições de presidente da Assembleia têm sido consensuais. Apesar dos comentários sobre essa ou aquela candidatura, nunca, no período, aconteceu coisa semelhante à atual, pois as intervenções dos governadores eram decisivas, lamentavelmente, pela falta de competência dos deputados de conduzirem as sucessões no Legislativo, tornando-o mais dependente, ou pior, desfigurado.

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