segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Paleoarte ajuda no processo de popularização da ciência

Davi Ângelo modelou a sua primeira peça aos 10 anos e nunca mais parou de produzir, incentivado pelo pai pescador e a mãe, dona de casa ( Foto: Karison Mesquita )
00:00 · 26.12.2016 por Marcelino Júnior - Colaborador
A Paleoarte aproxima a Paleontologia e os seres que ela estuda do público em geral, revelando um mundo desconhecido que, de outra forma, permaneceria muito difícil de ser imaginado por pessoas leigas ( Foto: Marcelino Júnior )
Pires Ferreira O pescador José de Lima, morador do distrito de Serrota dos Carneiros, neste Município da Zona Norte do Ceará, sempre encarou com surpresa cada desenho, pintura ou escultura que o filho Davi de Sousa Ângelo fazia, desde criança, ao buscar na arte, uma forma de expressão como ponte entre o mundo de fantasia que povoava sua imaginação e a realidade do Semiárido cearense, atualmente com pouca possibilidade de chuvas e uma seca quase infinita, que pinta a vegetação de um cinza pálido, que chama cada vez mais atenção.
Também habilidoso na construção de brinquedos em madeira, o pescador ainda lembra com orgulho, da primeira peça modelada em argila, apresentada pelo filho, quando tinha apenas 10 anos. "Era o embrião de um dinossauro dentro do ovo. Eu achei aquilo muito interessante, e vi que ele tinha um jeito para a arte, assim como a sua avó materna, que costurava bem, além de desenhar e pintar com muita facilidade. Tudo que ele fazia, vinha me mostrar, até que o quarto foi ficando pequeno para as peças. Nós fechamos um bar que tínhamos e transformamos o espaço em ateliê.
Esculturas
Foi em 2010 que o artista plástico Davi de Sousa Ângelo, hoje com 22 anos, deixou de lado os lápis e pinceis para se aprofundar nas técnicas da escultura, utilizando a argila como matéria prima, retirada das margens do Açude Araras, que se estendia, em tempos de cheia, até a proximidade do quintal de casa. Hoje, por conta dos sucessivos anos de seca, o açude, construído no município de Varjota, assim como a maioria dos reservatórios cearenses, opera muito abaixo de seu limite, com apenas 3,48% de volume hídrico, o que mudou radicalmente a paisagem ao redor. É no pequeno ateliê construído no terreno de casa, que Davi se deixa levar pela imaginação para transformar todo o material coletado por ele, na natureza, em elaboradas peças de arte, que também são feitas em biscuit, papel machê e epox.
Paleoarte
A curiosidade, somada ao estudo de criaturas mitológicas, fez com que as primeiras peças fossem ganhando forma e tridimensionalidade (altura, profundidade e largura). Não demorou muito para que Davi descobrisse e se apaixonasse pela Paleoarte, que mistura diversas técnicas artísticas, como pintura e escultura com a Paleontologia, ciência que estuda as formas de vida existentes em períodos geológicos passados, a partir dos seus fósseis. Assim, a Paleoarte ajuda a divulgar essa ciência, aproximando a Paleontologia e os seres que ela estuda do público em geral, revelando um mundo desconhecido que, de outra forma, permaneceria muito difícil de ser imaginado por pessoas leigas, existindo apenas na imaginação dos cientistas.
Na prática
Criadas como réplicas, as obras de Paleoarte são construídas a partir de ossos, que geralmente têm marcas indicando onde se localizavam músculos e ligamentos. Ao montar o esqueleto, o artista consegue chegar, mais ou menos, a uma semelhança da musculatura real do animal em questão, utilizando material variado. Como o esqueleto raramente é encontrado completo, os paleoartistas utilizam, ou substituem o esqueleto de bichos semelhantes para completar, por meio de comparação, o animal estudado.
De acordo com Davi, "você vai em várias fontes de pesquisa e recria aquela criatura ou planta que já foi extinta, com o material que a própria natureza fornece, como argila, que leva em torno de uma semana para ser concluída", disse.
Peças
As prateleiras do ateliê são repletas de cabeças de monstros, de animais fantásticos, répteis e criaturas de expressões fantasmagóricas, além de um punhado de outros seres assustadores e réplicas de fósseis de animais pré-históricos, múmias e bichos que, pela aparência, transitam entre a possibilidade de um dia terem existido e a liberdade que apenas a mente criativa de uma pessoa com alma de artista pode conceber.
As peças, que já foram expostas ao público, na Zona Norte do Estado, ainda chamam a atenção da mãe, a dona de casa Francisca Gomes de Sousa Ângelo, que deseja mais espaço para novas exposições do filho.
"Eu sempre achei fantásticos os trabalhos dele e sempre incentivei no que eu pude, para que continuasse a se desenvolver. O meu sonho é que ele possa expor toda essa arte para o mundo", disse dona Francisca, enquanto olhava para o horizonte da paisagem ressequida da Caatinga ao redor, que, em pleno período de seca, ou na tão esperada quadra chuvosa que recobre os campos de verde de ponta a ponta, serve de fonte de inspiração para quem sabe como e o que pode ser transformado em arte.
Mais informações:
Telefone: (88) 9 9632-1975
Instagram: daviangelo.F
Ateliêbonitezinhas

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