sábado, 25 de março de 2017

Descobertas revelam tesouros arqueológicos

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Na localidade de Pedra Encantada, na Lajes dos Rogérios, distrito de Várzea da Ipoeira, além da sujeira, uma fogueira foi acesa logo abaixo de uma rocha, comprometendo e danificando algumas inscrições
Boa Viagem. Dois professores, um de Geografia, Deusilan Carvalho, e o outro de História, Eliel Rafael, resolveram unir forças para identificar o mapa de um riquíssimo tesouro existente em Boa Viagem, uma cidade do Interior do Ceará vocacionada à preservação do seu passado. Nos sítios arqueológicos existentes na extensão territorial do Município, onde residem, é possível apreciar e estudar provas da existência de outros exploradores, de civilizações antigas, como indígenas, fenícios, e até habitantes pré-históricos.
Apaixonados por vestígios históricos e aventuras, a dupla aproveita o tempo livre para percorrer as trilhas da região, uma das riquezas turísticas mais importantes de Boa Viagem na avaliação deles. Recentemente, visitaram mais um desses tesouros, um sítio arqueológico na localidade de Sítio Holanda, no distrito de Ipiranga.
Encontraram gravuras dentro de cavernas, na Serra da Borracha. As pinturas, enigmáticas, lembram, principalmente, pessoas e animais. Para eles, além de encantarem pela beleza, provavelmente se trata de mensagens a serem decifradas por especialistas, arqueólogos.
Acerca do Sítio Holanda, outro pesquisador, Lucas Júnior, de Itaitinga, informou ter sido descoberto pelo padre José Patrício de Almeida, também de Boa Viagem. Em 1977, o Correio do Ceará publicou reportagem a respeito, apontando tratar-se de pinturas pré-históricas, acreditando serem de povos fenícios, uma das civilizações mais antigas do mundo.
O descobridor foi vigário de Boa Viagem, onde nasceu em 1906. Era estudioso da história das civilizações, especialmente oriental, mais precisamente a fenícia, e do Brasil. Na época, conforme a reportagem de Roberto Banhos, o padre afirmou não ter dúvida, após anos de estudo, de serem de fato da primeira sociedade a fazer uso extenso do alfabeto. O alfabeto fonético fenício, aliás, é tido como o ancestral de todos os alfabetos modernos, embora não representasse as vogais, adicionadas mais tarde pelos gregos.
Porém, para os dois professores, há carência de mais estudos, não sobre a descoberta do padre pesquisador, mas sobre outras inscrições, nos sítios arqueológicos do Município. Segundo eles, apenas três locais conhecidos estão listados no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), denominado Arquivo Noronha Santos. Na relação estão apenas a Casa de Pedra, a Pedra Encantada e o Serrote da Onça.
No rastro da história, quando se embrenha na mata, a dupla sempre encontra mais tesouros. Além das inscrições rupestres, acreditam terem encontrado um cemitério indígena. O local, situado na Serra do Facão, está destruído. Há necessidade da análise de um especialista, mas com certeza deve ser mais uma prova importante para o enriquecimento histórico e turístico do antigo povoado de "Cavalo Morto". Afinal, são quase 3 milhões de Km² a serem explorados.
Mapeamento
Além da necessidade de um novo mapeamento, os educadores e desbravadores alertam o poder público para adotar medidas de preservação desses tesouros materiais históricos. Em um deles, denominado Pedra Encantada, na Lajes dos Rogérios, distrito de Várzea da Ipoeira, além da sujeira, uma fogueira foi acesa logo abaixo de uma rocha, comprometendo e danificando algumas inscrições.
O local fica próximo a uma estrada. "O trabalho educativo está sendo realizado. Quando pudemos, realizaremos excursões com grupos de estudantes, mas também é preciso tomar outras providências, até de inspeções constantes", ressalta Eliel Rafael. A preocupação aumenta porque eles já encontraram outros lajedos com inscrições avariadas. Um deles também está situado em Várzea da Ipoeira.
Apesar dos problemas, a curiosidade do professor Deusilan Carvalho sobre as outras inscrições rupestres não catalogadas pelo Iphan continua. Ele pretendia convidar a arqueóloga Rosiane Limaverde, fundadora da Fundação Casagrande, para conhecer os sítios de Boa Viagem, e realizar estudos sobre as inscrições existentes em dezenas de rochas. Ela faleceu na ultima segunda-feira. Em respeito e homenagem à estudiosa da área os seus trabalhos serão apresentados aos alunos das escolas onde ele e Eliel Rafael ensinam.

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