sábado, 22 de abril de 2017

Fiscalização do Ibama vem sendo desmontada no Interior

As aves estão entre os animais mais ameaçados pelo ser humano ( Fotos: Honório Barbosa )
00:00 · 22.04.2017 por Honório Barbosa - Colaborador
Iguatu. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) combate o tráfico de animais silvestres, faz a recuperação das aves, devolvendo-as à natureza, ao habitat natural, em áreas cadastradas para soltura e nas unidades conservacionistas, fiscaliza a degradação ambiental, a pesca predatória, a destruição da fauna e da flora e promove educação ambiental e manejo florestal.
Todo esse trabalho corre risco de ser interrompido no Estado do Ceará, pois há uma portaria do Ibama que prevê fechamento de unidades regionais no Nordeste. No Ceará, em dezembro de 2015 foi desativado o escritório da cidade de Crato e agora a ameaça persiste em Aracati, Iguatu e Sobral.
Decisão administrativa
A chefe de Administração e Finanças do Ibama, no Ceará, Inês Espíndola, confirmou a decisão administrativa de fechamento das unidades regionais. "A portaria prevê a extinção dos escritórios regionais até o fim deste ano, mas há um esforço, estamos tentando reverter essa medida", explicou. "A situação é difícil e precisamos aguardar".
No Nordeste, cargos de chefia foram suspensos em fevereiro passado. Na região, seriam fechadas várias unidades e somente ficariam ativas nas cidades de Juazeiro (BA), Mossoró (RN), Parnaíba (PI) e Santa Inês e Imperatriz (MA).
Área ampliada
O escritório regional do Ibama em Iguatu ganhou um analista ambiental após o fechamento da unidade do Crato, no Cariri. O número de servidores passou de três para quatro.
Apesar das dificuldades, a unidade, agora com quatro fiscais, mantém as ações de combate ao tráfico de animais silvestre e de proteção da fauna em uma extensa área que ampliou de 28 para 55 municípios das regiões Centro-Sul, Cariri, Inhamuns, Sertão Central, Vale do Jaguaribe e Sertões de Crateús.
Neste ano, mesmo em menor escala, ocorre apreensão de aves, de equipamentos de caça e pesca, além de prisão de caçadores e aplicação de multas por prática de crime ambiental.
"No início do ano, entre Brejo Santo e Jati, no Cariri, foram apreendidos mais de 1.500 canários da terra, oriundos do Centro-Oeste brasileiro", frisou o analista ambiental Raimundo Rubi Bezerra. "O trabalho foi feito pela Polícia Militar que desconfiou da carga".
Dificuldades
O escritório tem dificuldades para atuar em uma área muito abrangente. "O trabalho de apreensão tem sido mais efetivo por policiais militares regulares e integrantes da Polícia Ambiental", frisou Bezerra. De um lado, está a necessidade da proteção ambiental, do outro, agem os caçadores e criadores ilegais. A luta é desigual.
A quantidade de traficantes parece ser crescente, numa proporção bem maior, e presente em todos os municípios. Por uma questão financeira e cultural, há pessoas que fazem tráfico de animais silvestres e há aqueles que criam em cativeiro bichos da fauna nordestina. Outros, ainda, caçam por puro esporte e prazer.
Mais ameaçadas
As aves mais ameaçadas são o canário-da-terra, papagaio, arara, golinha, bigodeiro, caboclinho-do-sertão, galo-de-campina (cabeça-vermelha), papa-capim e periquito-do-sertão. A Onça vermelha, tamanduá, macaco, jacaré e tatu integram a lista dos que mais sofrem com a ação predadora humana.
Na zona rural do município de Cedro, havia uma rinha e até campeonato. Após intervenção do Ibama, há cerca de três anos, as aves apreendidas foram levadas para um período de quarentena no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama, localizado no bairro de Messejana, Fortaleza.
Na região dos Inhamuns e nos Sertões de Crateús, o tráfico de aves é mais intenso. "Depois de caçados, os passarinhos são levados para comercialização nas cidades do Interior e grande parte é vendida nas feiras de pássaros e também são levados para São Paulo e Rio de Janeiro, por meio de ônibus clandestino para satisfazer o desejo de criação de nordestinos que migraram para a região Sudeste", observa Fábio Lima Bandeira, do escritório do Ibama em Iguatu.
Desaparecimento
Apesar dos esforços dos fiscais do Ibama, o resultado é evidente: as aves, que há até bem pouco tempo eram vistas no sertão cearense, estão desaparecendo ante a ação predadora do homem.
O canário-da-terra é um exemplo. Existia em quantidade nas matas e nas roças do Interior. "Hoje é caçado e apreendido no Peru e na Bolívia e trazido para cá", observa o fiscal do Ibama Alberto Castro, que está em trabalho reforçando equipes de fiscalização na região Norte do Brasil. "O canarinho não tem mais na nossa região".
Nova técnica
Nos últimos anos houve uma intensificação no tráfico de papagaios. Os traficantes mudaram a sistemática, deixando de apreender as aves. "O papagaio é um pássaro que só reproduz no mesmo lugar", disse Alberto Castro. "Os comerciantes ilegais retiram os ovos dos ninhos, deixando apenas um, e os chocam em casa para comercialização dos filhotes". O valor de comercialização da espécie varia entre R$ 400 e R$ 800. O preço de uma ave silvestre, nativa do sertão, em feira livre oscila entre R$ 10 e R$ 50. "Quanto mais tempo de gaiola, mais manso for o pássaro, mais valor terá", explica Castro. "A ave que canta é mais valorizada", completa.
Transporte
Araras, tucanos e macacos costumam vir dos Estados do Piauí e Maranhão e da região Norte. Há suspeita de que o transporte ilegal dessas aves se dá por meio de caminhões que transportam madeira para o Ceará. "São vendidas nas estradas e algumas são originárias de reservas indígenas", observou Bandeira. "Os caminhoneiros recebem encomendas ou trazem esses animais para revenda em pontos certos".
Os fiscais do Ibama agem geralmente mediante denúncias de moradores preocupados com a questão ecológica. O órgão mantém parceria com a Polícia Militar Ambiental e, nos últimos anos, cresceu o envolvimento ecológico de delegados e agentes da Polícia Civil, que contribuem com o combate ao tráfico de animais silvestres.
Áreas de soltura
O escritório regional do Ibama dispõe de nove áreas cadastradas para soltura de animais silvestres, nos municípios de Acopiara, Cariús, Iguatu, Parambu e Tauá. Entre as exigências, as propriedades devem ser protegidas da ação de caçadores, distantes dos centros urbanos, ter fonte de água, alimentação e dispor de uma reserva legal.
As pessoas interessadas em cadastrar uma área de soltura de animais silvestres devem procurar o escritório do Ibama. Os técnicos da instituição fazem a vistoria do local e fornecem toda a orientação necessária. "Os jovens, estudantes, que recebem educação ambiental, estão conscientes e não agem igualmente como os da geração passada", observou Bandeira. "Há uma nova consciência".
Centro de Triagem
Os animais aprendidos pela fiscalização, devolvidos, resgatados e capturados em feiras e em cativeiros são levados para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), localizado na Capital. Implantada em 2008, a unidade recebe uma média de 400 animais por mês. A maioria, cerca de 80%, é de pássaros.
O Cetas funciona como um verdadeiro hospital de animais. Dispõe de instalações para recuperação das aves, ambulatório e assistência de veterinários e de uma equipe de biólogos. Recebem alimentação adequada e tratamento.
Redução
"O trabalho de apreensão de animais caçados e comercializados tem sido mais efetivo por policiais militares"
Rubi Bezerra
Téc. do Esc. Regional do Ibama em Iguatu
Image-0-Artigo-2230685-1
Mais informações:
Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama
Telefone: (85) 3474.0001 
Escritório Regional do Ibama em Iguatu - Telefone: (88) 3581.2349

Nenhum comentário:

Postar um comentário