sábado, 27 de maio de 2017

Pesquisa escolar reconstrói história do Pompeu Sobrinho

A represa do Rio Choró, que mais tarde se tornou nome definitivo ao Município, foi erguida de 1932 a 1934. Na época, o Boqueirão do Limão pertencia ao município de Quixadá ( Foto: Acervo do coronel PM Valmir Galdino )
00:00 · 27.05.2017 por Alex Pimentel - Colaborador
Choró. Estudantes e professores da rede pública estadual deste jovem município do Sertão Central cearense resolveram descobrir como a localidade de Boqueirão do Limão, nome pelo qual a cidade onde nasceram era conhecida antes de conquistar sua emancipação, há 25 anos, conseguiu seu lugar no mapa geográfico do Ceará. Então os professores do núcleo de História da Escola de Ensino Médio Emanuel criaram o projeto "Preservando memórias - Conhecendo a história".
O início dessa história foi ao encontro da construção do Açude Pompeu Sobrinho. A represa do Rio Choró, que mais tarde se tornou nome definitivo do Município, foi erguida entre 1932 e 1934. Na época, o Boqueirão do Limão pertencia ao município de Quixadá. No lugar onde foi montado o acampamento dos cassacos, como os operários eram conhecidos, surgiu o povoamento, ao redor do açude e da capela de São Sebastião.
Logo os alunos e professores perceberam a importância do Pompeu Sobrinho, cujo nome original era Choró, na busca pelo conhecimento da história do seu povo. Já tinham aprendido com os professores sobre a origem das civilizações, sempre a partir de alguma reserva natural importante, onde há água e, consequentemente, alimentação. O rio estava ali e as suas margens foram habitadas pelos índios Jenipapo-Kanyndé. A toponímia Choró é originária da palavra Tupi chororó, que etimologicamente significa "rio murmurante", segundo o Anuário do Ceará.
Desses ancestrais ainda não sabem muito, até porque as entrevistas com os mais velhos se iniciaram há pouco. Mesmo assim, começaram a descobrir o surgimento da cidade a partir do exército de cassacos, mais de 30 mil atraídos por trabalho no canteiro do açude. Segundo a última estatística do IBGE, de 2010, a população de Choró é pouco mais de 1/3 desses números, exatos 12.853 habitantes. Mas onde foram parar os outros 20 mil, ou mais? Questionaram estudantes e professores. Afinal havia água, foi erguida a vila da Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), hoje Dnocs e até a capela. A estrutura necessária para o surgimento da cidade.
Esse mistério está sendo desvendado a partir da metodologia da história oral. As entrevistas estão previstas para se encerrarem no próximo mês. Além dos registros históricos oficiais, pelos relatos de quem trabalhou na obra, muitas pessoas morreram com o surto da peste, se referindo ao tifo, uma doença epidêmica, transmitida por parasitas, como o piolho. Pelos relatos do professor Jeovane Saraiva, um dos mentores do projeto, as epidemias de tifo, paratifo, sarampo e febre amarela dizimaram muitos trabalhadores.
Quem fez esses relatos foi Antônia Pereira de Sousa, "Dona Totozinha". Na época do início da construção, em 1932, tinha 17 anos. Lúcida, lembra ter alertado os irmãos para não irem para a construção. Eles retornaram doentes, de tifo. A família morava na localidade de Custódio, hoje distrito de Quixadá.
Dois anos foram suficientes, de 1932 a 1934, para erguer a barragem, com 235m de extensão e 31m de altura. E não demorou muito para o açude acumular 143 milhões de m³ de água. Pouco tempo depois, o açude encheu. As fotografias do coronel da Polícia Militar Valmir Galdino, que nasceu três anos após a construção, são provas. Ele herdou dos pais os registros fotográficos da construção do açude.
Casa da Memória
As descobertas estão indo além das expectativas dos professores e dos estudantes. Por esse motivo, eles pretendem solicitar ao Município a criação de um espaço na área da vila construída para abrigar os engenheiros da obra do açude. Querem transformar um dos três casarios ao lado da antiga capela de São Sebastião, hoje Igreja Matriz, na Casa da Memória de Choró. A cidade ainda não tem um museu.
O acervo surgirá a partir do documentário, exibindo as curiosidades sobre a construção do Açude. Pelos relatos dos professores, até a escola, com apenas um nome próprio, vai entrar nessa história. "Emanuel está relacionado a uma citação bíblica, "Deus conosco". A nossa escola recebeu esse nome para evitar descontentamentos e brigas entre as tradicionais famílias políticas, citou o professor Veridiano Dantas. O nome foi escolhido pelo diretor do CREDE 12, professor Artur Pinheiro.
A pesquisa está sendo efetivada pelos professores de História Veridiano Dantas, Jeovane Saraiva, Fabíola Lemos, Luana Barros e Andressa Nascimento. Foram selecionados para participar do projeto 16 estudantes. Na Escola Emanuel estudam 512 alunos, do 1º ao 3º Ano do Ensino Médio. A culminância do projeto será a apresentação do documentário "Preservando Memórias - Conhecendo a História de Choró", em setembro, na Feira de Ciências da Escola Emanuel.

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