segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Indústria de laticínios firma parceria com criadores

A produção saltou para 15 ml de leite por dia e gera 40 empregos diretos ( Foto: Honório Barbosa )

São produzidos cerca de 23 mil quilos de queijo de coalho; 24 mil quilos de mussarela e 20 mil litros de iogurte pelo empreendimento que foi iniciado há sete anos ( Foto: Honório Barbosa )
Icó. A indústria de laticínios Serve Bem, nesta cidade, localizada na região Centro-Sul cearense, encontrou na parceria com criadores de vacas leiteiras, um modelo de manter a oferta de leite, que é matéria prima básica para o funcionamento da unidade. A seca que castiga o sertão do Ceará nos últimos seis anos trouxe dificuldades para os produtores rurais e queda na produção agropecuária.
Para vencer a crise e conquistar a credibilidade entre os produtores rurais, o empresário Marcelo Ribeiro Torres, 45 anos, ampliou o apoio aos criadores. A ideia é simples: a empresa fornece insumos básicos, ração (milho e soja), assistência técnica, tanques de coleta de leite e até vacas leiteiras de alta linhagem genética adquirida no vizinho estado de Pernambuco.
O investimento empresarial é pago com a venda do leite. "Queremos crescer juntos, apoiamos os criadores, que acreditaram no nosso projeto e mantiveram fidelidade no fornecimento do leite", frisou Marcelo Torres. A parceria vem dando certo. "No início, tínhamos oito fornecedores e hoje já são 600".
A empresa é um exemplo de sucesso no Interior cearense. Ampliou o mix de produtos. Inicialmente produzia apenas leite de coalho. Hoje, já são mais de 35 itens, incluindo leite pasteurizado tipo barriga mole, iogurte, bebida láctea, queijo mussarela, nata, ricota, manteiga, doces, requeijão, manteiga da terra e, em breve, itens com zero lactose e iogurte bicamada.
A produção começou pequena, cerca de dois mil litros processados diariamente. Saltou para cinco mil e hoje está em torno de 15 mil l/dia. Gera diretamente 40 empregos e atende quase 40 cidades do Ceará e já começa a chegar em centros urbanos e áreas rurais de estados vizinhos. Tem oito vendedores diretos.
Os números revelam o crescimento do empreendimento que começou há apenas sete anos. Por mês, são produzidos 23 mil quilos de queijo de coalho; 24 mil quilos de mussarela; e 20 mil litros de iogurte. Qual o sucesso da empresa? O empresário Marcelo Torres, que desde o início conta com o apoio da mulher, Sênia Aparecida de Souza Torres, 45, é bastante enfático: "Tem de ter garra, dedicação, trabalhar firme".
Projeto
O embrião da fábrica de laticínios foi uma queijaria artesanal. O casal não queria ficar refém de um único produto, que tem oscilação de preço no mercado ao longo do ano e ampla concorrência na região. "Procuramos o escritório do Sebrae na cidade de Iguatu, que nos deu consultoria", explicou Sênia Torres. "Uma empresa foi contratada e elaborou o projeto. Além disso, indicou fornecedores de máquinas e equipamentos".
O empreendimento começou há sete anos e a ideia inicial era processar cinco mil litros de leite por dia. O orçamento era de R$ 1,4 milhão. "Ficamos um ano pensando, sem decidir e nesse tempo visitei laticínios no Ceará e em Tocantins", contou Marcelo Torres. Tomada a decisão, o casal resolveu investir recursos próprios e o orçamento foi ampliado para cerca de R$ 3,2 milhões, com financiamento de apenas 25%, equivalente a R$ 800 mil.
A unidade produtiva foi construída com adequações. "Ampliamos o projeto original. Reforçamos a nossa parceria com os produtores de leite porque a demanda iria aumentar", frisou Torres. O empresário, além de insumos básicos, forneceu matrizes de excelente qualidade genética com produção média diária de 25 litros de leite por dia, além de palestras técnicas voltadas para a melhoria do sistema de criação. "Os criadores passaram a confiar na gente e viram que não iríamos abandoná-los".
Criação
No entorno da cidade de Icó estão os lotes e as vilas rurais do Perímetro Irrigado Icó - Lima Campos. É de lá que sai a maioria do leite que abastece a agroindústria. A produção é oriunda da agricultura familiar. São cerca de 600 criadores que formam uma rede que abastece o laticínio. A escassez de água no Açude Lima Campos e nos poços dos lotes de produção traz dificuldades para os produtores que tiveram em média uma queda de 30% na produção de leite.
"Há seis anos que não chove bem na região e a água está ficando cada vez mais difícil", disse o agricultor Antônio Souza. "Se não fosse o apoio, o fornecimento de ração, não teríamos como manter a criação porque estamos sem capital".
A ração à base de milho e soja e outros insumos chega aos produtores nas unidades produtivas entregues por veículos da empresa. No início, os criadores vinham até a cidade para comprar o alimento para o rebanho, remédios e vacinas. "Vi que era mais fácil para os criadores, que ficam no campo, cuidando do gado, e que tinham dificuldades de transporte dos produtos", destacou Marcelo Ribeiro Torres.
Os irmãos, Luiz Alberto e Eliomar Vilarouca fornecem 450 litros de leite por dia à empresa no sistema de parceria firmada desde 2011. "Eles vêm pegar o leite no curral e trazem os insumos", disse Luiz Alberto. "Não precisamos nos deslocar".
A unidade produtiva dos dois irmãos fica no sítio Bom Sucesso, próximo ao Conjunto GH1, que integra o Perímetro Irrigado Icó - Lima Campos. A produção caiu cerca de 25% em decorrência da dificuldade de água. "Estamos perfurando poço, gastando, porque não tem mais água no açudes Lima Campos e Orós", explicou. "Se não chover no próximo ano, a nossa situação vai ficar muito difícil".
Os dois mantêm ainda um total de 38 vacas, sendo que 29 estão em lactação. "Já diminuímos o rebanho e vamos ter de reduzir ainda mais por falta de água", contou Vilarouca. Os produtores vendem atualmente o litro de leite resfriado por R$ 1,20. "Nesse período do ano, as despesas são maiores e a atividade dá baixo lucro", disse.
História
Antes de iniciar a produção da agroindústria, o casal tem uma história de vitória mediante a crença em um futuro melhor, graças ao trabalho pesado e diário. Tudo começou na cidade de Icó. Ainda com 16, anos, Marcelo Torres começa a trabalhar como distribuidor de ovos em 1989. Após dois anos de atividade, conseguia vender 500 bandejas (15 mil ovos) por semana. Hoje são 120 mil.
"Fazia venda e entregava, visitava os mercadinhos, as mercearias pequenas e fui conquistando a clientela, aumentando o volume dos negócios", conta. O depósito cresceu. Em contato com os compradores, Marcelo percebeu que havia demanda por frango de granja e decidiu abrir um abatedouro nos fundos do depósito de ovos.
"Começamos vendendo 30 aves por dia e hoje são mais de mil". Sempre de olho nos negócios e em novas oportunidades, o empresário decidiu investir na venda de frios (peito e coxa de frango congelado, queijo, linguiça e presunto). A ideia deu certo e o depósito inicial de venda de ovos cresceu e transformou-se em uma loja mais ampla e moderna. "Cheguei a vender frango vivo para pequenos abatedouros porque comprava em quantidade e conseguia repassar com um preço viável", disse Marcelo. Veio a ideia de abrir o frigorífico Serve Bem, no centro comercial. Inicialmente, a loja comercializava por semana, dois bois; hoje são 22 bovinos.
Marcelo Torres tomou outra decisão na vida e passou a criar ovinos. "Visitei um criador que disse que dava soro que sobra do processo de produção de queijo de coalho para os carneiros, que estavam gordos, bonitos", contou. "Na época, já fabricava queijo e segui o exemplo que deu certo". Diariamente, abate dois ovinos na unidade de criação. "Juntei o útil ao agradável".
Caldeira
A produção de queijo artesanal de coalho começou em 2010, lembra a mulher, Sênia Torres. Após adquirir um terreno que vai das margens do Rio Salgado até a BR 116, instalou uma caldeira e a queijaria em condições adequadas. Contratou um técnico experiente. Processava 18 quilos por dia. "O nosso queijo tornou-se conhecido, é saboroso", disse Sênia. "O produto conquistou os consumidores da região e também passou a ser comercializado em Fortaleza".
Os empresários não quiseram ficar refém de único produto. "No período de chuvas, o preço cai e a concorrência é muito acirrada porque há muitos produtores de queijo artesanal de coalho", pontua Marcelo. "Por isso, resolvemos começar o projeto da fábrica de laticínios". Enfrentando dificuldades, mas sempre vencendo, o casal de empreendedores sonha em ampliar a fábrica, o mix de produtos. "É um segmento muito concorrido. Há empresas tradicionais com mais de 20 anos no mercado, mas estamos conquistando aos poucos nosso espaço e crescendo".
Nas margens do Rio Salgado, o plantio de capim para alimentar o gado e um poço amazonas que ainda não secou devem ser beneficiadas pelas águas da Transposição do Rio São Francisco. "Será a nossa segurança hídrica", finaliza Marcelo Torres. "Queremos ver essa água escorrer pela água do rio e realimentar o lençol freático".

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