quinta-feira, 16 de novembro de 2017

O sonho de Sebastião Biano



aSebastião ainda era um menino de seis anos quando a família Biano precisou sair de Mata Grande, em Alagoas, para fugir da seca que assolava o sertão. O destino era certo: o Juazeiro, do Padim Ciço, de onde vinham boas notícias dos sertanejos que enfrentavam a estrada em busca de água e alimento. A viagem - feita a pés descalços, porque "não tinha animal, não tinha calçado" - duraria 13 anos, mas a família não conseguiria chegar na terra do Padim, fixando-se em Pernambuco. Só agora, em novembro de 2017, "depois de vovô", aos 98 anos, é que o tocador de pífano conseguiu, enfim, realizar "o sonho dos Bianos".
A chegada em Juazeiro do Norte aconteceu no último dia 11. Quando a sandália de couro branca pisou no Juazeiro pela primeira vez, a alegria foi grande. "Achei muito bonito, o povo muito especial, especial mesmo", disse Sebastião, em entrevista concedida após o show que realizou no Terreiro da Mestra Margarida, a convite da 19ª Mostra Sesc Cariri.
Ele viajou acompanhado do filho José Biano; do sobrinho, João Biano; e do tocador de pífano João Kaboclo: todos integrantes da atual formação da Banda de Pífanos de Caruaru - fundada pelo pai de Sebastião, Manoel Clarindo Biano, em 1924. No terreiro, tocaram com ele, além dos já citados, Filpo Ribeiro (viola, rabeca e marimbau), Renata Amaral (baixo) e Eder "O" Rocha (zabumba e bateria).
Para chegar no solo caririense, o tocador contou com o apoio de mais de 120 colaboradores numa campanha de crowdfunding iniciada há pouco mais de dois meses. Nesse período, ele conseguiu mais de R$ 15 mil em dinheiro, que serviu para custear passagens, hospedagens e também o trabalho de Rogério Pixote, que está documentando em fotos e vídeos toda a viagem para a produção de um longa-metragem. O convite do Sesc também ajudou a viabilizar a vinda de toda a equipe, além de garantir a interlocução com outros mestres da região.
As atividades incluíram duas visitas ao Horto do Padre Cícero. Na primeira, realizada na tarde do dia 12, os pifeiros tocaram benditos, simulando as novenas que Sebastião participava no passado, e ainda algumas músicas de baile. O Mestre Chico, da Banda Cabaçal Santo Antônio, também participou do momento, tocando caixa. E, no dia seguinte, eles voltaram lá, para conhecer o Museu Vivo do Padre Cícero e continuar a festa com outros mestres. Sobre o Horto, Sebastião não economizou nos elogios. "É bonito, avista o mundo que tem de avistar, é a coisa mais linda do mundo", descreveu.
Também integraram o roteiro de Biano o Centro de Cultura Popular Mestre Noza, em Juazeiro do Norte, a Fundação Casa Grande e a casa do Mestre Expedito Seleiro, em Nova Olinda, a Vila da Música, a ONG Beatos e até a casa dos Aniceto, no Crato. "Saímos de lá à noite. Ele começou a tocar e não parou mais, já estava um pouco cansado", conta Júnior Kaboclo sobre a conversa musical com alguns membros da família Aniceto.

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