sábado, 17 de fevereiro de 2018

Caverna pode ter gravuras rupestres mais antigas do Ceará


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Segundo o grupo de estudo, o valor histórico da caverna deve ser muito grande ( Foto: César U. V. Veríssimo )

Itatira/Madalena. A lenda de uma princesa indígena fugida com um amante pertencente a outra tribo, há dezenas de anos no Ceará, alimenta o imaginário de turistas e moradores na região dos municípios de Itatira e Madalena. A residência do casal teria sido uma gruta situada no limite entre as duas cidades, próxima à localidade de São José dos Guerra, a 180Km de Fortaleza. A caverna, que remonta à Pré-História, tornou-se o palácio da princesa, ou, como é conhecida pela população local atualmente, a Casa de Pedra.
Um grupo de pesquisadores do Departamento de Geologia (Degeo) da Universidade Federal do Ceará (UFC) resolveu estudar a formação geológica e todos aspectos culturais e mitológicos da gruta. O objetivo do grupo é mapear toda a Casa de Pedra, desvendando seus segredos geológicos e, ao mesmo tempo, estimulando a fortalecimento do vínculo cultural dos visitantes com o local, a partir dos mitos que cercam a caverna.
Segundo o grupo de estudo, estima-se que o valor histórico da caverna seja muito grande. As gravuras de figuras humanas encontradas nas paredes de mármore, apesar de não terem ainda uma datação concreta, podem ser os mais antigos registros rupestres do Ceará. As marcas de água e a proximidade com cursos de rios também indicam a presença de tribos pré-históricas, pela necessidade que os antigos homens tinham de estar próximos a uma fonte hídrica.
Para o professor Wellington Ferreira, integrante da pesquisa, é preciso haver um modo de estudar a formação geológica sem destruir os mitos criados. "É preciso ter sensibilidade. O recebedor (a população) do conhecimento científico precisa assimilá-lo, mas equilibrar com seu conhecimento tradicional, pois são as peculiaridades e as lendas que tornam o lugar atrativo", frisa.
Redirecionar essa criação de vínculo, importante para os visitantes, também é um dos objetivos do Degeo. O grupo espera, a partir do potencial educacional da caverna, promover o uso ambiental e historicamente consciente do lugar. "Há um valor científico, turístico e educacional, porque vislumbramos aquilo como sala de aula, onde podemos mostrar aos agentes da comunidade como disseminar essa preservação", diz o professor.
Além de ter um grande potencial turístico, Wellington Ferreira aponta que o local é uma espécie de cápsula do tempo. "A Casa de Pedra já está protegida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Essa estrutura se formou há centenas de milhares de anos atrás e são consequências de episódios climáticos. Atualmente não temos algo correspondente no Nordeste", acrescenta.
Os habitantes das cidades próximas à gruta, tanto de Madalena quanto da vizinha Itatira, já são conhecedores de algumas das peculiaridades do local. O chamado quarto da princesa, por exemplo, é lugar de visitação comum: com o que parece ser uma cama feita de pedra, o salão é um dos locais preferidos dos frequentadores, pois permite um bom descanso e aproveitamento de ar fresco.
Outro espaço, conhecido como o quarto escuro, guarda histórias que dialogam com o terror. Segundo o imaginário popular, como se trata de uma região com pouca luz nem mesmo velas se sustentam lá, e lanternas são incapazes de manter o foco. Mas o que parece uma sala de infinito breu é, na verdade, apenas um pequeno corredor: bastam alguns passos e quem entra lá alcança logo outro espaço da caverna, bem mais iluminado.
Livro
Após todo o trabalho topográfico, auxiliado até por drones, o laboratório publicará um livro no qual será discutida não apenas a geodiversidade e as questões de patrimônio da Casa de Pedra, mas também o processo de formação da caverna. A ideia também é levar o mesmo tipo de estudo para outros locais do Ceará, onde outras grutas são fonte de vínculo com a comunidade que as cerca.

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