domingo, 22 de abril de 2018

Após três décadas termina a história do restaurante mais tradicional de Juazeiro do Norte

Ícone da lagoa Seca, a La Favorita foi demolida no último dia 11. (Foto: Felipe Azevedo)
Tamanha foi minha surpresa, há algumas semanas, passando pela avenida Leão Sampaio, em Juazeiro do Norte, quando percebi que duas máquinas grandes destruíam o que um dia foi um dos mais importantes restaurantes da história da cidade. Enquanto passava, vi vir abaixo a La Favorita, que em três décadas tornou-se ´cartão postal´ de um bairro que até então tinha pouco ou quase nada a oferecer.

É improvável dar adeus a La Favorita. O lugar era como se fosse um patrimônio tombado da cidade, ali, no pé da avenida que liga Juazeiro à Barbalha, reuniam-se grandes nomes da sociedade juazeirense. Políticos, artistas, médicos, empresários costumavam aproveitar o que ainda nem se chamava de ´happy hour´; uma ´seresta´ seria nome correto neste caso.

Com riqueza de detalhes e fotos históricas, quem narrou toda a trajetória do restaurante que em breve dará lugar a um empreendimento tipo ´´open mall´, foi o historiador Daniel Walker em seu blog Portal de Juazeiro.

Ele relembra que a la Favorita nasceu da sociedade entre os irmãos Domingos Mendonça, Hildeberto e Francisco Araújo, em 15 da outubro de 1983. A casa funcionava em um prédio histórico no cruzamento entre as ruas Do Cruzeiro e Padre Cícero, no Centro.

Os três aproveitaram o ´boom´ das pizzas no Brasil - mais ou menos o que ocorre de modo regionalizado com o consumo de açaí, por exemplo -, e se especializaram em trazer para cozinha nordestina os princípios da receita italiana. Acertaram, o negócio cresceu, o terreno no bairro Lagoa seca foi comprado e, sem saberem, estavam construindo ali quase que um patrimônio histórico da cidade.

A La Favorita foi bem mais longe do que ser apenas um restaurante. O alpendre amplo e arejado também serviu como casa de shows. Entre os que se apresentaram por ali estão Luiz Fidélis, Nelson Gonçalves, Jevan Siqueira, Bartô Galeno e Hugo Linard, é seresta de raíz! Além dos shows de humor com Shaolin, Spanta, Rosicleia, Zé Modesto e Adamastor Pitaco, quando nem se falava em ´stand up comedy´.

Há, é claro, alguma lembrança pessoal de quem escreve este texto. A minha experiência com a La Favorita foi ainda pouca, admito. Minhas principais lembranças, no entanto, remetem ao São João de um dos maiores colégios de Juazeiro que mantinha a tradição de um festival de quadrilhas no saguão do restaurante, bem disputado, por sinal.

Houve também, em uma longínqua data, onde o carnaval da minha escola no ensino fundamental foi comemorado por lá. As lembranças são vagas, mas recordo com clareza das cores, as fantasias e as músicas de axé baiano que tocavam enquanto as crianças sujavam as professoras de espuma e maisena.

Fechada desde 2 de novembro de 2015, o adeus definitivo à casa foi no último dia 11 de abril. Vi nas redes sociais diversas fotos da demolição, a memória do que se pode chamar de ´alta sociedade´ juazeirense virou entulho na caçamba do caminhão.

Ficam, portanto, as histórias, a saudade, as serestas e tudo que se viveu ali. Creio, como leigo, que a La Favorita inaugurou o pólo gastronômico no qual se transformou um bairro nobre que, antes disso, colecionava praças tão somente. A cidade muda, as ruas se transformam e é preciso aprender a conviver com as despedidas, esta é mais uma.           Fonte: Site Miséria

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